31 de dezembro de 2014

A Reunião - Parte 1


Ele está vivo, eu posso sentir isso. Tudo bem que eles desapareceram depois do conselho vermelho, mas isso foi porque Elódia os colocou como traidores mais uma vez. Malditos elodianos, Althïr nunca cometeria um ato tão vil...

Os devaneios de Allyria foram interrompidos quando Bellon, Capitão do pelotão, ordenou a parada. Já passava da meia-noite e os cavalos precisavam de descanso. O silencio se manteve entre o grupo, não seria agradável atrair atenções indesejadas com conversas e barulheiras, mas também, ninguém estava no clima para qualquer sorriso, foram vitoriosos no último combate, mas isso custou um terço do pelotão, amigos a muito conhecidos agora nas mãos dos deuses.

– Descansaremos aqui por quatro horas – avisou o Capitão enquanto desmontava de sua montaria – Fiquem atentos e não abaixem sua guarda, não queremos nenhuma surpresa durante a noite.
Estavam em marcha acelerada há trinta e dois dias, se nada mais os atrasasse chegariam nos próximos cinco. Já estariam na séde se não fosse pela emboscada de uma tropa de Morcul, que de alguma forma conseguiu se embrenhar pela floresta sem ser ao menos percebida pelos batedores da aliança. Por este motivo, Bellon reduziu o tempo de descanso e acelerou o ritmo da marcha, pois deviam assim compensar parte do tempo perdido.



O próprio Elryon, líder de toda a Ordem, convocou uma grande reunião com todos os agentes presentes no continente. Após o conselho vermelho muitas coisas haviam mudado, toda a guerra agora tinha outro significado. Muitos agora, como o próprio Capitão, encaravam Allyria de outra forma, com olhares de incerteza, olhares que tentavam julgar se sua lealdade era real ou traiçoeira, uma desconfiança que começou a partir dos relatos de Elódia, os quais colocam Althïr como um grande traidor e assassino. Tal desconfiança era meio lógica, afinal de contas, eles eram Althïr e Allyria, os prodigiosos gêmeos Alcarin, fosse qual fosse a verdade, ela certamente estaria de acordo com o irmão. 

Malditos Elodianos, criam bodes expiatórios para que seus ganhos com aquela tragédia passem despercebidos.
 – Allyria bufava em seus pensamentos. 

A manhã se aproximava, todos se aprontaram e seguiram em sua marcha. Eles seguiam para Delfos Norte, com cidades élficas nas proximidades, a séde intermediária dos Guardiões Cegos tinha bom apoio e auxílio. Nessa rotina de marcha chegaram ao seu destino, aonde muitos já se reuniam e outros mais chegavam.
Mais cinco dias foram necessários para que todos os pelotões remanescentes estivessem presentes - assim como uma comitiva de Elódia. No sexto dia a grande reunião foi finalmente realizada.

Logo após o desjejum, Elryon e seus outros seis comandantes apareceram no enorme palanque construído em frente ao grande pavilhão central do conselho. Logo após eles, subiram também um elfo e um eladrín em suas suntuosas e características vestes de mago, eram representantes de Elódia. Haviam aproximadamente novecentos membros da Ordem ali presentes, pois cerca de quatrocentos haviam perecido em campo. Allyria pode contar cerca de cinquenta representantes na comitiva de Elódia, achou aquilo certamente exagerado para uma simples representância.

No início da reunião, aqueles que morreram foram honrados com cantos e orações por suas almas, e ao findar as honrarias, os assuntos em questão foram abordados.

– Há cerca de um ano, ocorreu a grande atrocidade conhecida como Conselho Vermelho.  – Começou Elryon.  – E como todos aqui devem saber, um dos nossos membros esteve envolvido em tal acontecimento.  – O alto e poderoso Eladrín falava com uma seriedade profunda, Allyria notou que tudo isso realmente parecia incomodá-lo.  – Mas muitos entre nós ainda não tem conhecimento de todos os fatos. Por esse motivo, Vardamir nos relatará todo o ocorrido de acordo com os registros de Elódia. – O elfo elodiano se pôs ao lado de Elryon, desenrolou um pergaminho, pigarreou e começou o relato.

– A convite do Reino Anão Leste, três líderes do Supremo Militar Elodiano compareceram a um grande conselho que foi realizado em sua capital. – O tom arrogante e soberbo característico dos Elodianos sempre irritava Allyria. – O Rei Dúrin, Membros da aliança comercial Trade e outros ilustres representantes tiveram suas presenças confirmadas. Aredhel, uma emissária dranoriana, traiu a Aliança e assassinou brutalmente todos ali presentes, incluindo seu irmão e seu noivo. Além da grande traição, tivemos outras revelações, como o fato de Dranor ter criado e desenvolvido ocultamente uma sociedade de Lobisomens, bestas cruéis e sanguinolentas que assombram gerações. Aredhel, a assassina, representava essas criaturas, o que prova a sua natureza vil e traiçoeira. Após a grande carnificina, ela simplesmente desapareceu sem deixar rastros.

 – E aonde exatamente um dos nossos se encaixa nessa história sangrenta? – Perguntou Elryon ao elodiano.

– Althïr Alcarin, membro dos Guardiões Cegos; Thor Adim, mestre de armas anão; Hans, bardo humano; Natã, deva feiticeiro que estudou magia em Elódia; Stulk, golias com tendências bárbaras e Tharen, um elfo sem antecedentes registrados, formam um grupo já duas vezes suspeito de traição contra a Aliança. – Seu desdém e repulsa eram mais do que claros ao citar os nomes. – Sua atuação no Conselho Vermelho não é em si confirmada, uma vez que não tiveram contato direto com o ato, mas é confirmado que o grupo era de grande amizade com Dranor, com a sociedade de lobisomens e também de uma amizade pessoal com Aredhel, a traidora. Kane, o noivo de Aredhel, também fazia parte do grupo de Althïr e foi confirmado como uma das bestas, assim como sua noiva. – Com uma pequena pausa, ele continuou. – Com estes relatos sobre o grupo, podemos deduzir rapidamente que eram suspeitos em potencial e, com base nessas suspeitas, decidimos prendê-los até que as investigações fossem concluídas. Porém, com a sua liberdade ameaçada, todos eles, menos Thor Adim, que foi capturado e está agora nos calabouços do Reino Anão Leste, fugiram sem deixar qualquer rastro, indício de sua culpa nesta vil traição. – O discurso repetitivo e manipulador do elodiano só aumentava a frustração de Allyria, todo esse joguete realmente lhe dava nos nervos. – Althïr e seus companheiros são acusados, pela segunda vez, de alta traição e são fugitivos da Aliança. Qualquer um que lhes dê abrigo, esconderijo ou qualquer tipo de amparo será considerado cúmplice de seus planos e terá a mesma punição.

Vardamir então se afastou e guardou seu pergaminho enquanto Elryon tomava a palavra.


– Muito bem, agora todos estão cientes sobre os registros de Elódia. – A seriedade em seu tom era ainda mais severa, seu desgosto com aquele assunto era evidente. – Então, cabe a mim perguntar, o que Elódia quer com todo esse contato com os nossos e todo este terrível relato?


O Eladrín Elodiano foi à frente para responder.

– O que queremos aqui é a prova de que os Guardiões Cegos não fizeram parte desse horror que foi o Conselho Vermelho, a evidência de que não aprovam os vis atos de Althïr Alcarin. – Allyria achou aquele eladrín estranho, não só a sua arrogância elodiana não lhe agradava, havia algo nele que lhe dava calafrios, repugnância. – Nós temos conhecimento de que Althïr tem uma irmã gêmea, a qual também faz parte desta corporação, peço que a chamem para o palanque, para que possamos ter mais respostas.

Todos encararam Allyria, muitos com olhos de acusação, outros de apoio, muitos a olhavam simplesmente com tristeza, desapontamento. Dentre a Ordem existiam muitas opiniões contrárias quanto às questões do continente, e é claro, sobre Althïr e Allyria. Mas também havia aqueles que não sabiam no que acreditar, seus olhos buscavam apenas por respostas.

Elryon a chamou para o Palanque, e assim ela foi sob o olhar turvo de todos ali presentes, tanto membros dos Guardiões quanto dos Elodianos acusadores. O pesar em seu peito era maior a cada passo, sua força era menor a cada metro, o silêncio de todos era angustiante, um clima obscuro e ruim, era só o que isso representava. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário